Acredito que a Abordagem Antropológica é a que mais faz sentido para mim, devido a seu caráter profundo e amplo de abordar a Educação Física pelo viés cultural, levando-se em conta a visão de mundo dos alunos e dos professores, agentes dessa relação social promovida pelas aulas de Educação Física. Daólio, o idealializador desse processo, percebe o ser humano como um ser social histórico, de modo que também o prof. de Educação Física está inserido em um contexto cultural, portanto, as suas representações sobre o mundo, o corpo e a prática física precisam ser valorizadas. Além disso, o ponto de partida nas aulas de Educação Física deve ser o repertório cultural de cada aluno.
Por meio dessa abordagem, podemos perceber o corpo como um construtor, um veículo e um depositório de manifestações da cultura. Nessa abordagem a questão da alteridade, compreensão do “outro” como um ser cultural em toda a sua complexidade é de fundamental importância para que possamos lidar com temas da atualidade social, tais como: bullying, anorexia, depressão, obesidade, drogas, violência, problemas posturais, utilização de piercings e tatuagens, visto que os estudos restritos aos aspectos biológicos não nos darão ferramentas suficientes para manejarmos conteúdos que possuem uma natureza plural e interdisciplinar.

O idealizador dessa abordagem propõe uma Educação Física plural, ou seja, que saiba respeitar as diferenças físicas e culturais dos alunos. De acordo com essa teoria, não podemos mais nos preocupar com o desenvolvimento e a eficiência do desempenho, pois a sociedade atual necessita do reconhecimento das diferenças – não só físicas, mas também culturais – expressas pelos alunos, garantindo o direito de todos à sua prática mediante a realidade circunstancial..
Com certeza essa teoria pedagógica embasa a minha prática de educadora física, pois também possuo uma graduação em Ciências Sociais pela USP, e desde o início de minha vida acadêmica, os estudos relativos a forma como as inúmeras civilizações, povos, culturas e agrupamentos humanos tratam o corpo sempre despertou meu interesse intelectual. Considero de extrema importância que o professor de Educação Física tenha conhecimento dos conteúdos e vivências social-culturais de seus alunos. Afinal devemos sempre ter em mente questões como: educar quem? Educar em que universo cultural? Educar para quê?, além de questões referentes a como e o que educar. Assim, é sob essa perspectiva de compressão do contexto social-cultural no qual o professor e os alunos se encontram que a Antropologia tem inúmeras contribuições a oferecer, visto que poderemos agir crítica e de forma transformadora, levando em conta a realidade social do aluno. Essa abordagem Antropológica ou Social foi sugerida por Jocimar Daólio (1995), segundo ele a Antropologia Social compreende o ser humano como um construtor de significados para as suas ações no mundo. Essa abordagem também percebe os professores de Educação Física com um grupo social que busca e faz de sua atuação profissional cotidiana o sentido para suas vidas.
Assim, em minhas aulas de Pilates buco sempre saber quais práticas físicas e culturais cada pessoa fez antes de chegar até o meu estúdio, pois é muito interessante usar a linguagem corporal já conhecida pelo aluno para agregar conceitos e técnicas novas. Desse modo, quando um aluno diz que faz Yoga junto com o Pilates, costumo mostrar as semelhantes e diferenças entre os dois métodos. Quando chega alguém do ballet, me remeto a toda a influência que o método sofreu da dança.
Esse tipo de abordagem torna muito mais significativo meu trabalho e a prática do aluno. Muito obrigada a todos vocês que durante tantos têm prestiado minhas aulas.
Andréa Elaine Sechini