sexta-feira, 1 de abril de 2022

Fundamentos: osteologia

 

 



 

O esqueleto humano é formado por cartilagens e ossos, sendo que o sistema esquelético é dividido funcionalmente em:  

1) Esqueleto axial: formado pelos ossos da cabeça (crânio), pescoço e tronco (costelas, esterno, vértebras e sacro); 

2)  Esqueleto apendicular: formado pelos ossos dos membros. 

cartilagem é uma forma de tecido conjuntivo avascular presente em partes do sistema esquelético, com característica de ser semirrígida e mais flexível do que os ossos. Algumas faces articulares ósseas, como as das articulações sinoviais, permitem a movimentação de forma otimizada por proporcionarem deslizamento adequado e pouco atrito (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014). Como não possui vasos, na cartilagem ocorre o processo de difusão nas células, que garante a adequada oxigenação e nutrição. A quantidade de cartilagem também varia com a idade, sendo maior em crianças, o que explica a grande flexibilidade em recém-nascidos. 

Os ossos são um tipo de tecido conjuntivo vascularizado rígido que apresenta várias funções, dentre as quais as principais são:  

1) Sustentação do corpo; 

2) Proteção de para estruturas vitais como o coração e os pulmões; 

3) Servir de alavanca para os movimentos (junto com as articulações); 

4) Armazenamento de sais minerais como o cálcio. 

O periósteo é um revestimento de tecido conjuntivo fibroso (bainha) dos ossos e o pericôndrio é um revestimento de tecido conjuntivo fibroso que circunda a cartilagem, sendo que ambos revestem o tecido esquelético externamente e depositam cartilagem ou osso conforme a demanda (como em fraturas). Esses tecidos também fazem a interface para a fixação de tendões e ligamentos. Os ossos possuem uma parte conhecida como osso compacto (proporciona resistência para sustentar o peso) e outra como osso esponjoso (trabecular) que possui maior quantidade de espaços ocos (FIGURA 1). A cavidade medular substitui partes do osso esponjoso e é responsável pela produção de medula amarela (gordurosa) e/ou vermelha (produção de sangue e plaquetas).  

A origem dos ossos é o tecido conjuntivo embrionário (mesênquima) e seu desenvolvimento final pode ocorrer anos após o nascimento (como o processo de ossificação do úmero, que se completa em torno dos 20 anos de idade). Os processos de ossificação que ocorrem dentro dos ossos podem ser divididos em duas categorias (FIGURA 1), sendo a estrutura histológica igual ao final do processo: 

Ossificação primária:  

  • Iniciada pelos capilares; 
  • Local onde o tecido ósseo substitui a maior parte da cartilagem; 
  • Diáfise: corpo de um osso ossificado a partir da ossificação primária (cresce durante o desenvolvimento ósseo). 

Ossificação secundária:  

  • Surge em outras partes do osso em desenvolvimento após o nascimento;  
  • Epífise: partes de um osso ossificadas a partir do seu centro; 
  • Metáfise: parte alargada da epífise. 


De acordo com o formato, os ossos podem ser classificados em:

a) Ossos longos: têm o formato tubular (como o úmero);

b) Ossos curtos: são cuboides, sendo encontrados apenas no tarso (tornozelo) e no carpo (punho);

c) Ossos planos: possuem funções protetoras, como os do crânio (encéfalo);

d) Ossos irregulares: possuem vários formatos (como os ossos faciais);

e) Ossos sesamoides (como a patela): encontrados em áreas de cruzamentos de ossos longos dos membros, são responsáveis pela proteção dos tendões contra o desgaste.

Os ossos também podem ter acidentes e formações, que geralmente são os locais de inserção de tendões (podendo inclusive direcioná-los para melhorar a alavanca de movimento), ligamentos e fáscias ou mesmo de artérias penetrando ou margeando as estruturas ósseas. Entre os principais, tem-se:

a) Côndilo: área articular arredondada (côndilos lateral e medial do fêmur); 

b) Epicôndilo: proeminência adjacente ou superior a um côndilo (epicôndilo lateral do úmero); 

c) Forame: passagem através de um osso (como o forame magno); 

d) Sulco: depressão alongada (sulco do nervo radial do úmero); 

e) Cabeça: extremidade articular grande e redonda (cabeça do úmero); 

f) Maléolo: processo arredondado (maléolo lateral da fíbula); 

g) Trocanter: elevação arredondada grande (trocanter maior do fêmur); 

h) Tuberosidade: grande elevação arredondada (tuberosidade ilíaca). 

 

Fundamentos: artrologia  

 

As articulações são a união entre dois ou mais ossos (ou partes rígidas do sistema músculo esquelético) (SOBOTTA, 2000). Algumas não têm movimentos (como as lâminas entre a epífise e diáfise), outras apresentam movimentos restritos (como os alvéolos dos dentes) e outras possuem um amplo movimento como a articulação glenoumeral (ombro). A articulação pode sofrer desgaste com o tempo (desgaste articular comum em idosos) ou com o excesso de determinadas atividades de impacto (como em atletas), sendo esse processo patológico denominado artrose. As articulações são divididas em 3 tipos:  

1) Fibrosas: nelas os ossos são unidos por tecido fibroso. Como exemplo, tem-se as suturas do crânio. A sindesmose é um tipo de articulação fibrosa que une os ossos com uma lâmina de tecido fibroso; 

2) Cartilaginosas: nelas os ossos são unidos por cartilagem hialina (ou fibrocartilagem). Dentre as articulações cartilaginosas, tem-se as sincondroses (primárias) que permitem crescimento do osso (união epífise e diáfise) e as sínfises (secundárias) que são mais fortes, pouco móveis e unidas por fibrocartilagem. Como exemplo, tem-se a sínfise púbica e os discos intervertebrais (que contribuem com a resistência, flexibilidade e absorção de choque); 

3) Sinovial: é o tipo de cartilagem mais comum no corpo humano, sendo que nela os ossos são unidos por uma cápsula articular com líquido sinovial lubrificante (formada por camada fibrosa externa é revestida pela membrana sinovial que secreta o líquido), possuindo ampla liberdade de movimento. Como exemplo, tem-se a articulação do ombro e do joelho. Geralmente essas articulações tendem a ser reforçadas por ligamentos acessórios. 

 

Fundamentos: miologia  

 

O sistema musculoesquelético é formado por tecidos musculares que contêm mioglobina e proteínas contráteis. O tecido muscular também contribui para a formação de componentes importantes de outros órgãos além do músculo esquelético como partes dos sistemas digestivo, genital e urinário (como os músculos ciliar e detrusor). As células dos músculos (chamadas de fibras musculares por seu formato alongado) são células contráteis com especialização de função (SOBOTTA, 2000). As fáscias são faixas de tecido denso que delimitam os tecidos musculares e possuem funções primordiais de contenção muscular e otimização da força gerada pela contração muscular e proteção. Os músculos (Mm) podem ser classificados em três tipos: 

1) Músculos estriado esquelético: músculo somático voluntário que forma os músculos do aparelho locomotor, responsável pelos movimentos do corpo e pela estabilização óssea; 

2) Músculo estriado cardíaco: músculo visceral involuntário do coração e de partes de grandes vasos como a aorta; 

3) Músculo liso (não estriado): visceral involuntário presente na parede da maior parte dos vasos sanguíneos e das vísceras (órgãos ocos), sendo responsável por movimentos coordenados que levam a contrações e pulsações. 

A arquitetura e formato dos músculos depende da disposição das suas fibras, sendo que os músculos podem ser classificados de acordo com seu formato em vários tipos: 

1) Músculos planos: possuem fibras paralelas geralmente com a presença de uma aponeurose (como o M. oblíquo externo do abdome e o M. sartório); 

2) Músculos peniformes: têm formato semelhante a uma pena, como o M. extensor longo dos dedos, M. reto femoral e o M. deltoide; 

3) Músculos fusiformes: têm formato de fuso com um ou mais ventres redondos e espessos, como o M. bíceps braquial; 

4) Músculos triangulares (convergentes): possuem origem em uma área larga e convergem para formar um único tendão, como o M. peitoral maior; 

5) Músculos quadrados: têm lados semelhantes como o M. reto do abdome; 

6) Músculos circulares ou esfincterianos: circundam uma abertura, sendo que sua contração leva a fechamentos como o M. orbicular dos olhos; 

7) Músculos com múltiplas cabeças ou múltiplos ventres: possuem mais de uma inserção ou de um ventre contrátil como o M. tríceps braquial (3 cabeças na inserção), o M digástrico (organização em série) e o M. gastrocnêmio (organização em paralelo). 

O estudo da anatomia pode ser regional para uma melhor compreensão considerando grande quantidade de informações de todas as estruturas, mas as relações que se estabelecem estudadas pela anatomia sistêmica e pela anatomia aplicada são fundamentais na prática diária. É essencial observar que os ossos, as articulações, os músculos e tendões estão interligados com os demais órgãos viscerais, com vasos e nervos (lembrando que estes podem ser comprimidos e terem seus fluxos alterados por alterações do sistema muscular que os circundam, por exemplo). Assim sendo, o aparelho locomotor tem papel fundamental na fisiologia geral e aplicada em todo o corpo e não apenas no movimento humano. 

 


Conceitos básicos em anatomia

 



A anatomia pode ser classificada em regional, sistêmica e aplicada (ou clínica), sendo que para descrições anatômicas se adota mundialmente a posição anatômica. Esta posição corresponde à pessoa em pé com a cabeça e os dedos para frente, braços ao lado do corpo com palmas anteriorizadas e membros inferiores com os pés paralelos (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014). Alguns termos de relação e comparação também devem ser conhecidos dentro da descrição anatômica, dentre os quais temos: 

- Superior: mais perto do vértice (ponto alto do crânio), inferior (mais próximo da planta), posterior (dorsal) e anterior (ventral); 

- Medial e lateral: descrito de acordo com o plano mediano do corpo; 

- Palmar/plantar: pés e mãos; 

- Superficial, intermédio e profundo; 

- Proximal e distal. 

O aparelho locomotor é composto pelo sistema articular, esquelético e muscular, sendo que os estudos de anatomia dessas áreas correspondem à: 

1) Osteologia: estudo do sistema esquelético (ossos e cartilagem); 

2) Artrologia: estudo do sistema articular (articulações e ligamentos); 

3) Miologia: estudo do sistema muscular (músculos e tendões).