O esqueleto humano é formado por cartilagens e ossos, sendo
que o sistema esquelético é dividido funcionalmente em:
1) Esqueleto axial: formado pelos ossos da
cabeça (crânio), pescoço e tronco (costelas, esterno, vértebras e sacro);
2) Esqueleto apendicular: formado pelos
ossos dos membros.
A cartilagem é uma forma de tecido
conjuntivo avascular presente em partes do sistema esquelético, com
característica de ser semirrígida e mais flexível do que os ossos. Algumas
faces articulares ósseas, como as das articulações sinoviais, permitem a
movimentação de forma otimizada por proporcionarem deslizamento adequado e
pouco atrito (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014). Como não possui vasos, na cartilagem
ocorre o processo de difusão nas células, que garante a adequada oxigenação e
nutrição. A quantidade de cartilagem também varia com a idade, sendo maior em crianças,
o que explica a grande flexibilidade em recém-nascidos.
Os ossos são um tipo de tecido conjuntivo
vascularizado rígido que apresenta várias funções, dentre as quais as
principais são:
1) Sustentação do corpo;
2) Proteção de para estruturas vitais como o coração e os
pulmões;
3) Servir de alavanca para os movimentos (junto com as
articulações);
4) Armazenamento de sais minerais como o cálcio.
O periósteo é um revestimento de tecido
conjuntivo fibroso (bainha) dos ossos e o pericôndrio é um revestimento
de tecido conjuntivo fibroso que circunda a cartilagem, sendo que ambos
revestem o tecido esquelético externamente e depositam cartilagem ou osso
conforme a demanda (como em fraturas). Esses tecidos também fazem a interface
para a fixação de tendões e ligamentos. Os ossos possuem uma parte
conhecida como osso compacto (proporciona resistência para
sustentar o peso) e outra como osso esponjoso (trabecular) que
possui maior quantidade de espaços ocos (FIGURA 1). A cavidade
medular substitui partes do osso esponjoso e é responsável pela
produção de medula amarela (gordurosa) e/ou vermelha (produção
de sangue e plaquetas).
A origem dos ossos é o tecido conjuntivo embrionário
(mesênquima) e seu desenvolvimento final pode ocorrer anos após o nascimento
(como o processo de ossificação do úmero, que se completa em torno dos 20 anos
de idade). Os processos de ossificação que ocorrem dentro dos ossos podem ser
divididos em duas categorias (FIGURA 1), sendo a estrutura histológica igual ao
final do processo:
Ossificação primária:
- Iniciada
pelos capilares;
- Local
onde o tecido ósseo substitui a maior parte da cartilagem;
- Diáfise:
corpo de um osso ossificado a partir da ossificação primária (cresce
durante o desenvolvimento ósseo).
Ossificação secundária:
- Surge
em outras partes do osso em desenvolvimento após o nascimento;
- Epífise:
partes de um osso ossificadas a partir do seu centro;
- Metáfise: parte alargada da epífise.
De acordo com o formato, os ossos podem ser classificados
em:
a) Ossos longos: têm o formato tubular (como o úmero);
b) Ossos curtos: são cuboides, sendo encontrados apenas
no tarso (tornozelo) e no carpo (punho);
c) Ossos planos: possuem funções protetoras, como os do
crânio (encéfalo);
d) Ossos irregulares: possuem vários formatos (como os
ossos faciais);
e) Ossos sesamoides (como a patela): encontrados em áreas de cruzamentos de ossos longos dos membros, são responsáveis pela proteção dos tendões contra o desgaste.
Os ossos também podem ter acidentes e formações,
que geralmente são os locais de inserção de tendões (podendo inclusive
direcioná-los para melhorar a alavanca de movimento), ligamentos e fáscias ou
mesmo de artérias penetrando ou margeando as estruturas ósseas. Entre os
principais, tem-se:
a) Côndilo: área articular arredondada (côndilos lateral e
medial do fêmur);
b) Epicôndilo: proeminência adjacente ou superior a um
côndilo (epicôndilo lateral do úmero);
c) Forame: passagem através de um osso (como o forame
magno);
d) Sulco: depressão alongada (sulco do nervo radial do
úmero);
e) Cabeça: extremidade articular grande e redonda (cabeça do
úmero);
f) Maléolo: processo arredondado (maléolo lateral da
fíbula);
g) Trocanter: elevação arredondada grande (trocanter maior
do fêmur);
h) Tuberosidade: grande elevação arredondada (tuberosidade
ilíaca).
Fundamentos: artrologia
As articulações são a união entre dois ou
mais ossos (ou partes rígidas do sistema músculo esquelético) (SOBOTTA, 2000).
Algumas não têm movimentos (como as lâminas entre a epífise e diáfise), outras
apresentam movimentos restritos (como os alvéolos dos dentes) e outras possuem
um amplo movimento como a articulação glenoumeral (ombro). A articulação pode
sofrer desgaste com o tempo (desgaste articular comum em idosos) ou com o
excesso de determinadas atividades de impacto (como em atletas), sendo esse
processo patológico denominado artrose. As articulações são
divididas em 3 tipos:
1) Fibrosas: nelas os ossos são unidos por
tecido fibroso. Como exemplo, tem-se as suturas do crânio. A sindesmose é
um tipo de articulação fibrosa que une os ossos com uma lâmina de tecido
fibroso;
2) Cartilaginosas: nelas os ossos são unidos por
cartilagem hialina (ou fibrocartilagem). Dentre as articulações cartilaginosas,
tem-se as sincondroses (primárias) que permitem crescimento do osso (união
epífise e diáfise) e as sínfises (secundárias) que são mais fortes, pouco
móveis e unidas por fibrocartilagem. Como exemplo, tem-se a sínfise púbica e os
discos intervertebrais (que contribuem com a resistência, flexibilidade e
absorção de choque);
3) Sinovial: é o tipo de cartilagem mais
comum no corpo humano, sendo que nela os ossos são unidos por uma cápsula
articular com líquido sinovial lubrificante (formada por
camada fibrosa externa é revestida pela membrana sinovial que secreta o
líquido), possuindo ampla liberdade de movimento. Como exemplo, tem-se a
articulação do ombro e do joelho. Geralmente essas articulações tendem a ser
reforçadas por ligamentos acessórios.
Fundamentos: miologia
O sistema musculoesquelético é formado por tecidos
musculares que contêm mioglobina e proteínas contráteis. O
tecido muscular também contribui para a formação de componentes importantes de
outros órgãos além do músculo esquelético como partes dos sistemas digestivo,
genital e urinário (como os músculos ciliar e detrusor). As células dos músculos
(chamadas de fibras musculares por seu formato alongado) são
células contráteis com especialização de função (SOBOTTA, 2000). As fáscias são
faixas de tecido denso que delimitam os tecidos musculares e possuem funções
primordiais de contenção muscular e otimização da força gerada pela contração
muscular e proteção. Os músculos (Mm) podem ser classificados em três
tipos:
1) Músculos estriado esquelético: músculo
somático voluntário que forma os músculos do aparelho
locomotor, responsável pelos movimentos do corpo e pela estabilização
óssea;
2) Músculo estriado cardíaco: músculo visceral
involuntário do coração e de partes de grandes vasos como a
aorta;
3) Músculo liso (não estriado): visceral
involuntário presente na parede da maior parte dos vasos sanguíneos e
das vísceras (órgãos ocos), sendo responsável por movimentos coordenados que
levam a contrações e pulsações.
A arquitetura e formato dos músculos depende da disposição
das suas fibras, sendo que os músculos podem ser classificados de acordo com seu
formato em vários tipos:
1) Músculos planos: possuem fibras paralelas geralmente com
a presença de uma aponeurose (como o M. oblíquo externo do abdome e o M.
sartório);
2) Músculos peniformes: têm formato semelhante a uma pena,
como o M. extensor longo dos dedos, M. reto femoral e o M. deltoide;
3) Músculos fusiformes: têm formato de fuso com um ou mais
ventres redondos e espessos, como o M. bíceps braquial;
4) Músculos triangulares (convergentes): possuem origem em
uma área larga e convergem para formar um único tendão, como o M. peitoral
maior;
5) Músculos quadrados: têm lados semelhantes como o M. reto
do abdome;
6) Músculos circulares ou esfincterianos: circundam uma
abertura, sendo que sua contração leva a fechamentos como o M. orbicular dos olhos;
7) Músculos com múltiplas cabeças ou múltiplos ventres:
possuem mais de uma inserção ou de um ventre contrátil como o M. tríceps
braquial (3 cabeças na inserção), o M digástrico (organização em
série) e o M. gastrocnêmio (organização em paralelo).
O estudo da anatomia pode ser regional para uma melhor
compreensão considerando grande quantidade de informações de todas as
estruturas, mas as relações que se estabelecem estudadas pela anatomia
sistêmica e pela anatomia aplicada são fundamentais na prática diária. É
essencial observar que os ossos, as articulações, os músculos e tendões estão
interligados com os demais órgãos viscerais, com vasos e nervos (lembrando que
estes podem ser comprimidos e terem seus fluxos alterados por alterações do
sistema muscular que os circundam, por exemplo). Assim sendo, o aparelho
locomotor tem papel fundamental na fisiologia geral e aplicada em todo o corpo
e não apenas no movimento humano.